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Fórmula Ford, a precursora da nova fórmula 4 brasileira

Fiquei muito feliz com o anúncio, para 2022, da realização da primeira temporada brasileira da Fórmula 4, categoria de entrada no automobilismo internacional para os jovens pilotos que saem do kart.

Coincidência ou não, o auge da presença e participação de pilotos brasileiros no exterior coincidiu com a existência no Brasil de categorias de base e formação, como a extinta Fórmula Ford.

Nenhuma outra conseguiu revelar e desenvolver tantos talentos, desde Alex Dias Ribeiro, passando por Rubens Barrichello, Christian Fittipaldi e Gil de Ferran, entre muitos outros.

O que poucos sabem é que o desenvolvimento da Fórmula Ford no Brasil, ainda no início da década de 1970, contou com a participação e trabalho de John Garner, um norte-americano que se transformou no homem de mil e uma utilidades da indústria automobilística brasileira.

O mais importante programa administrado por John Garner foi a Fórmula Ford, que se tornou a escola de preparação de jovens pilotos para adquirir a experiência necessária antes de conduzir automóveis mais fortes. Sob o comando de John Garner foi a melhor fase da Fórmula Ford no Brasil, com provas em diferentes cidades do País e um grande número de carros no grid.

Mas quem foi John Garner? Sua história é, no mínimo interessante. Ele teve brilhante passagem pela Willys e pela Ford, com muita eficiência nas diferentes responsabilidades para as quais foi designado. Era um homem versátil, daqueles que são como Bombril, para mil e uma utilidades. E muita versatilidade e alegria.

Para que possam avaliar esse executivo, farei alguns comentários sobre o período em ficou no Brasil e os desafios que enfrentou em algumas missões para as quais foi delegado.

John Garner era a imagem mais correta de um cowboy norte-americano. Alto e loiro, revelava também que sua origem era o campo. Simpático, sorridente, externava sempre seu amor pelo Brasil e lembrava-se muito da feijoada – “aquele prato com coisas tão estranhas”, como definia – com que um funcionário da Freios Varga o recepcionou logo que chegara ao Brasil, no começo dos anos 60.

Aqui, John Garner comandou vários departamentos, como Vendas, Marketing, Propaganda, Promoção de Vendas, Competições e Peças e Serviços. Sua principal atuação foi no final dos anos 60, quando a Ford já havia adquirido a Willys, na administração da campanha “Eu Acredito”, idealizada pelo publicitário Mauro Salles e que resultou no primeiro “recall” realizado pela indústria automobilística brasileira.

Esse tipo de ação, hoje muito comum na indústria automobilística, provocou temores quando a Ford deu início aos estudos para tentar recuperar a imagem do Corcel, lançado em 1968, com alguns problemas mecânicos. Do temor inicial, a campanha foi um sucesso e levou outras fábricas a seguirem o exemplo da Ford.

Pelo êxito obtido pela Ford, as fábricas entenderam as vantagens do reconhecimento de uma falha, o que transmitia confiança aos clientes.

Outros programas comandados por John Garner foram a reorganização da Divisão Motorcraft, área que administra o fornecimento de peças de reposição da Ford, que dinamizou o atendimento aos clientes com estoque nas revendas e menor tempo para a realização dos serviços aos proprietários de veículos.

Pouco antes de a Ford assumir a Willys e com o declínio das vendas do Gordini, John Garner decidiu fazer a última tentativa para manter o carro em produção: além de campanhas publicitárias, mandou inserir pequenos anúncios de venda do Gordini nos classificados dos jornais das principais capitais. As pessoas indicadas nos anúncios como proprietários eram devidamente instruídas para informar que o veículo acabara de ser vendido. A ideia de Garner era tentar provocar uma onda de valorização e de interesse para Gordini. Isso realmente ocorreu, mas não atingiu a força necessária para mantê-lo em produção.

A impetuosidade de John Garner foi demonstrada desde jovem, quando precisou empregar-se para pagar os estudos. Diante da dificuldade de conseguir uma colocação, animou-se ao ler um anúncio em jornal de uma empresa em busca de um fotógrafo. Não teve dúvidas, apresentou-se para o cargo e foi admitido.

Não era totalmente leigo, porque além de fotografar como qualquer cidadão, aprendera a revelar filmes. Naquele tempo, os “flashs” das máquinas eram com lâmpada de sódio ou magnésio, que soltava fumaça a cada clique.

Logo nos primeiros dias, Garner foi chamado para o seu primeiro trabalho. Fotografar nada menos que o presidente da empresa. “Sim, o presidente”, disse com ênfase. Nervoso diante da grande responsabilidade, calculou mal a distância necessária e aproximou muito a câmera do rosto do patrão. Ao acionar o botão da máquina, a “explosão” da lâmpada afetou o presidente que precisou de socorros médicos.

Assustado, Garner foi para o seu “laboratório” e ao revelar a foto teve a noção do desastre. Uma verdadeira caricatura, em imagem completamente distorcida, com destaque para o nariz em primeiro plano.

No dia seguinte, foi chamado pelo patrão que queria conferir o trabalho. Inicialmente deu desculpas, informando que a foto não tinha ficado boa e que precisaria repetir o trabalho. Mas o chefe insistiu e Garner foi obrigado a atendê-lo. Ao entrar na sala, assustou-se com o nariz queimado do presidente. Mas temeroso e envergonhado, mostrou o resultado de seu trabalho.

Consciente de que seria demitido, surpreendeu-se com a gargalhada do presidente, divertindo-se com a sua própria caricatura. Em vez da demissão, o homem anunciou a Garner que iria dar a ele o patrocínio de um curso de fotografia.

Depois de se aposentar, John Garner e sua esposa regressaram aos Estados Unidos e foram viver numa fazenda que possuíam em Tampa, da Flórida.

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